Considerada uma doença infecciosa grave, além de ser altamente contagiosa, a varíola foi declarada erradicada em 1980 pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Durante seu período de circulação, 3 a cada 10 pessoas que contraíram a doença não resistiram; e os sobreviventes, na maioria das vezes, ficavam com cicatrizes.
Sua origem é desconhecida, mas já foram descobertos indícios de bolhas na pele – sintoma característico da doença – em múmias egípcias, o que sugere que ela exista há pelo menos 3.000 anos. A disseminação global da varíola é atribuída por muitos historiadores ao crescimento das civilizações e à colonização.
Depois dessa breve aula de história, você pode estar se perguntando: mas por que falar sobre varíola agora? Por causa do atual surto de varíola dos macacos, muitas pessoas ficaram curiosas e até começaram a se questionar sobre os riscos da varíola – será que há chances dela retornar? Se você é uma dessas pessoas, confira os tópicos a seguir:
- O que é varíola?
- Sintomas da varíola
- Transmissão da varíola
- Varíola dos macacos
- Varíola tem cura?
- Tratamento da varíola
- Vacina para varíola
- Como se proteger da varíola
O que é varíola?
A varíola é uma doença infecciosa grave e altamente contagiosa, causada pelo vírus orthopoxvirus variolae. Durante 80 anos de surtos conhecidos, antes de ser declarada erradicada pela Organização Mundial da Saúde, em 1980, estima-se que essa doença tenha causado mais de 300 milhões de mortes, de acordo com a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).
Existem dois tipos de varíola: a major, com 30% de letalidade, e minor, a mais comum e com menos de 1% de letalidade. Existiam ainda formas mais raras da doença, como a hemorrágica e a maligna.
Sua erradicação aconteceu graças a um plano intensificado de vacinação, iniciado em 1967. Mesmo que a varíola não esteja mais em circulação, considerando os números devastadores e o alto risco da doença, é importante conhecê-la.
“Até os dias atuais não foram detectados casos novos, mas a preocupação ainda existe porque o vírus da varíola pode ser utilizado como bioterrorismo, voltando a trazer epidemias em determinadas áreas do planeta”, explica Karina de Paula Bastos Santos, médica de Família e Comunidade na Sami.
A erradicação da varíola é um exemplo vitorioso de como as vacinas salvam vidas! Segundo a OMS, a varíola é a única doença infecciosa que teve sua circulação natural extinta.
Sintomas da varíola
Os sintomas da varíola são similares aos da varíola dos macacos. Segundo os Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), dos Estados Unidos, eles variam de acordo com o estágio da doença. Ou seja, cada período da infecção tem uma manifestação diferente. Na fase de incubação, quando o vírus entra em contato com o organismo e começa a se proliferar, a pessoa não costuma apresentar nenhuma mudança.
Os sinais iniciais surgem, na verdade, de 7 a 19 dias após a infecção – quando a pessoa também começa a transmitir a doença. Nessa fase, costuma ocorrer:
- Febre alta;
- Fadiga;
- Dores de cabeça e no corpo;
- Vômito.
Depois de 2 a 4 dias desses sintomas iniciais, começam a aparecer erupções na garganta e na boca. São como “bolhas” acompanhadas por manchas avermelhadas. Quando elas se rompem e viram feridas, espalhando vírus pela região, dentro de 24 horas surgem erupções na pele do rosto, dos braços, das pernas, das mãos e dos pés, podendo atingir o corpo inteiro e causar coceira intensa e dor.
Após 4 dias, em média, essas bolhas são preenchidas por pus, chegando à fase de erupção pustulosa. Esse período tende a durar cerca de 10 dias, e é marcado pela elevação das bolhas, que ficam redondas e firmes, como grãos sob a pele. Com o tempo, as erupções se transformam em crostas, uma das últimas fases da doença.
Ao atingir quatro semanas desde o início das bolhas na pele, todas as crostas já devem ter caído sozinhas (é importante não ter interferência nesse processo para evitar que a infecção piore), fazendo com que a pessoa deixe de transmitir a doença.
Transmissão da varíola
A varíola é transmitida através de gotículas infectadas, espalhadas pela tosse ou espirros. Pode ser tanto por um contato direto – ao falar com uma pessoa infectada, por exemplo – quanto pelo indireto, ao tocar em objetos e superfícies contaminadas. E é justamente por causa do seu modo de transmissão que a varíola é considerada altamente contagiosa.
Importante: vale ressaltar que a transmissão acontece somente pelo contato entre humanos, sem nenhuma relação com animais.
Varíola dos macacos
Diferente da varíola, que é um vírus exclusivo de seres humanos, a varíola dos macacos é uma zoonose viral. Isso significa que, em um primeiro contato, ela é transmitida de animais para pessoas. Por causa das florestas tropicais, essa doença atingia apenas países da África Central e Ocidental, considerados endêmicos para a varíola dos macacos.
Havia pouquíssimos casos fora desse território, mas todos com histórico de viagem recente para essas regiões. Em maio de 2022, porém, o mundo registrou os primeiros casos de varíola dos macacos em países que nunca tiveram nenhum histórico com a doença, como o Brasil.
Apesar de menos contagiosa e menos letal do que a varíola, a varíola dos macacos pede atenção global. Além dos casos estarem em crescente, estão acontecendo simultâneos à pandemia da COVID-19, que já dura mais de 2 anos e continua fazendo vítimas fatais.
A varíola dos macacos também pode ser transmitida por gotículas infectadas, e apresenta sintomas parecidos com os da varíola, como:
- Erupção (bolhas) ou lesões na pele;
- Dor de cabeça intensa;
- Febre acima de 38,5ºC;
- Calafrios;
- Dores musculares;
- Dor nas costas;
- Fraqueza profunda;
- Linfonodos inchados (estruturas que filtram substâncias nocivas à saúde).
Varíola tem cura?
A varíola não tem cura, pois não é possível combater o vírus. O tratamento é focado apenas em aliviar os sintomas. Porém, as manifestações mais preocupantes, como as bolhas na pele, somem após o período de infecção – mas podem deixar marcas por todo o corpo. A doença ainda pode causar cegueira em pacientes sobreviventes.
Tratamento da varíola
O tratamento da varíola é focado no alívio dos sintomas, já que não existem medicamentos que interrompem a ação do vírus. Pensando nisso, são utilizados antivirais e antibióticos – esses para tratar infecções bacterianas secundárias. No dia a dia, é preciso ter um cuidado redobrado com as feridas e erupções na pele.
O isolamento da pessoa infectada é imprescindível para o tratamento, além de evitar que mais pessoas tenham a doença. Como a varíola pode causar febre alta e evoluir para quadros mais graves, é importante manter acompanhamento médico. Mas, apenas para reforçar (e te tranquilizar): não existe um risco iminente da varíola voltar a circular, visto que foi erradicada em 1980 e não há registros de novos casos desde então.
Vacina para varíola
A vacina foi a grande protagonista da erradicação da varíola. De acordo com a OMS, o primeiro imunizante efetivo foi criado em 1796, por Edward Jenner. Ainda assim, em 1959, quando começou a primeira campanha de erradicação da varíola lançada pela OMS, não havia vacinas suficientes – o que prejudicou a iniciativa.
Mas, em 1967, um novo plano foi traçado a fim de acabar com a varíola, dessa vez intensificado – com vacinação e vigilância dos surtos por todo o mundo durante vários anos. Após todo esse esforço, o último caso de varíola foi registrado na Somália, em 1977. Por causa da vacina e um dos mais notáveis sucessos de saúde pública da história do mundo, a varíola foi declarada erradicada em 1980.
Por ter sido erradicada há mais de 40 anos, a vacina contra a varíola não faz mais parte do calendário de vacinação obrigatório.
Como se proteger da varíola
Hoje em dia, não é necessário se prevenir contra a varíola, visto que a doença não está em circulação e não oferece risco de retorno. Mas, em um cenário hipotético, onde a varíola poderia voltar a colocar a população mundial em risco, as medidas preventivas incluiriam:
- Vacinação;
- Evitar contato próximo com pessoa infectadas;
- Usar máscara e, se necessário, fazer isolamento social;
- Lavar as mãos com água e sabão frequentemente;
- Usar álcool em gel;
- Higienizar objetos pessoais com água morna e detergente.
Essas atitudes – tirando a vacina, que ainda não está disponível para uso – também valem para prevenir contra a varíola dos macacos que, no momento, está infectando pessoas além dos países endêmicos, algo único na história da doença e que deixou o mundo em estado de emergência. Por isso, observe sua saúde e ao primeiro sinal de alerta não hesite em procurar uma unidade de saúde.
