Aqui na Sami, sabemos o quanto é importante #CuidarDaFala. Discurso é algo muito poderoso, para o bem e para o mal.
E quando o tema é LGBTfobia, os discursos preconceituosos são violência para quem sofre. Além disso, as falas e “brincadeiras” discriminatórias são grandes responsáveis por sustentar a LGBTfobia na nossa sociedade.
Recentemente, uma participante do Big Brother Brasil precisou explicar como se referir a ela quando falarem com ela ou sobre ela. O motivo: a confusão se dava por ela se identificar como travesti.
Durante o ao vivo, Linn da Quebrada deixou claro que quer ser chamada por pronomes femininos, depois de se referirem a ela como elE. Linn, que tem o pronome ELA tatuado na testa, tem levantado muitas questões sobre como cuidar da nossa fala.
Você já precisou explicar para outra pessoa como quer ser chamada ou chamado? Ou precisou explicar sua orientação, quem é, o que gosta…? Certamente, não foi uma situação muito simples. Quantas vezes você já parou para refletir em como chamar alguém? Já teve amigos ou parentes próximos que sentiram a necessidade de reconhecer? E como lidar com essa situação?
A resposta é bem simples: cuidando da fala e entendendo.
A LGBTfobia está nas diversas formas de agredir, ignorar ou excluir pessoas que não são heterossexuais ou cisgêneras, de forma verbal, física ou psicológica. Assim como em outras discriminações, ela está enraizada nos comportamentos sociais e é assim que muitas atitudes continuam se perpetuando por gerações.
Falas que devem ser excluídas do nosso dia a dia e o porquê
“Você não precisa contar para todo mundo que é gay (lésbica, bi, etc).”
Por que não dizer: a sociedade é reconhecida como heteronormativa. Isso quer dizer que, por padrão, a heterossexualidade ou relacionamentos heterossexuais são tidos como “naturais”. Muitas vezes, para a pessoa se sentir bem e confortável, ela precisa falar quem ela é!
“Olha, eu não tenho preconceito, mas…”
“Você é bonito, mas…” não parece que a pessoa vai dizer o contrário? E vai! “Mas” é uma conjunção adversativa e seu uso, depois de uma afirmação, indica a contradição do que foi dito antes. Eu não tenho preconceito. Ponto! Sem porém.
“Quem é o homem/mulher da relação?”
Como dissemos acima, por padrão, a sociedade é heteronormativa. Com isso, perguntar quem é o homem ou mulher em uma relação que tem apenas mulheres ou apenas homens é encaixar novamente nesse padrão da heteronormatividade. Em uma relação entre pessoas do mesmo sexo, o objetivo é, justamente, que não haja pessoas do sexo oposto.
“Tudo bem ser gay (lésbica, trans, bi, etc), só não quero que dê em cima de mim!”
Todos os héteros dão em cima de todas as pessoas do sexo oposto? Muitos ligam a ideia da promiscuidade a pessoas da comunidade LGBTQIA+, o que é um preconceito.
“Você é gay/lésbica/trans? Nem parece…”
Essa frase reforça a estereotipação das pessoas LGBTQIA+, buscando impor um determinado padrão de comportamento e aparência. Lembrando que todos e todas têm o direito de ser e se vestir como querem e se sentem melhor. Ao dizer isso você até pode ter a intenção de elogiar, mas saiba que não é elogio. Ser gay, lésbica, bi ou trans não é uma vergonha ou algo negativo, então não tem porque querer parecer heterossexual ou cisgênero. Não é elogio. Não fale.
“E o que vou explicar para os meus filhos?”
A homoafetividade e a transexualidade não devem ser classificados como tabus. A melhor forma de acabar com a LGBTfobia é naturalizar a existência dessas pessoas.
“Para de mimimi”
O famoso mimimi é muito usado quando não queremos saber de algo correto a ser feito por preguiça ou para não mudar o nosso preconceito enraizado. Quando uma opinião invade o direito e a liberdade do outro, é discriminação. E discriminação está longe de ser mimimi.
“Não tenho preconceito, tenho até amigos que são…”
Começar uma frase com “não sou preconceituoso” não anula o seu preconceito. Dizer que tem amigo gay ou o fato de você gostar muito de uma pessoa LGBTQIA+ não te exime de cometer atos e falas homofóbicas. Esse convívio não é suficiente para que você desconstrua todos os preconceitos e não impede que você os reproduza de forma inconsciente.
Como se referir de modo respeitoso às pessoas da comunidade
Agora que vimos algumas frases que NÃO vamos mais repetir, vem a dúvida: como se referir a alguém da maneira certa?
Depois das falas preconceituosas que vimos, estamos com um feeling melhor para refletir sobre a cautela de se referir a alguém. Nossa fala carrega histórias e bagagens que muitas vezes podem ser poderosas, tanto para o bem como para o mal. E se for para a gente agregar a vida de alguém, que seja positivamente, certo?
Pesquisas mostram que a cada 23 horas uma pessoa LGBTQIA+ é assassinada no Brasil. O nosso país, infelizmente, pelo décimo segundo ano consecutivo, é o país que mais mata pessoas trans no mundo. Além disso, a cada uma hora, uma pessoa LGBTQIA+ é agredida, de acordo com os dados do Sistema Único de Saúde (SUS).
Geralmente, uma pessoa heterossexual não conhece a vivência e vulnerabilidade da segurança de uma pessoa LGBTQIA+. A violência contra este grupo é real e é muito importante que os discursos sobre a causa não sejam minimizados ou invalidados.
Como se referir a uma mulher lésbica – se você não faz parte da comunidade:
Jamais fale:
- Sapata
- Sapatão
- Sapatona
- Caminhoneira
- Mulher-macho
Pode falar:
- Lésbica
- Homossexual
Como se referir a um homem gay – se você não faz parte da comunidade:
Jamais fale:
- Viado
- Boiola
- Bichinha
- Baitola
Pode falar:
- Gay
- Homossexual
Como se referir a uma pessoa bissexual – se você não faz parte da comunidade:
Jamais fale:
- Gilete
- Indeciso (a)
- Total flex
- Promíscuo (a)
Pode falar:
- Bi
- Bissexual
Como se referir a uma pessoa trans – se você não faz parte da comunidade:
Jamais fale:
- Trava, traveco
- Pronomes que não estejam de acordo com a identidade de gênero da pessoa
Pode falar:
- Trans
- Mulher trans
- Homem trans
- Pessoas trans
Pergunte sempre para a pessoa: “Como você gostaria que eu te chamasse?” Ou “Como você prefere que eu te chame?”
Como se referir a uma pessoa intersexo
Jamais fale:
- Hermafrodita
Fale:
- Intersexo
E não esqueça, o ideal mesmo é sempre chamar as pessoas pelo nome que ela tem ou pelo nome que ele ou ela escolheu ser chamado ou chamada.
Agora que já vimos as falas preconceituosas e como devemos nos referir a alguém, para não restar dúvidas, vamos falar sobre a diferença entre orientação sexual, sexo e identidade de gênero?
Afinal, você não precisa ser LGBTQIA ou + para entender desse tema e muito menos para combater a LGBTFobia. O melhor meio de combater o preconceito é se informando. Então, bora?
Qual a diferença entre sexo, identidade de gênero e orientação sexual?
Sexo: É a genitália e as nossas características biológicas, de cromossomo e hormônios: masculino, feminino ou intersexo (pessoas que naturalmente desenvolvem características sexuais que não se encaixam nas noções típicas de sexo feminino ou sexo masculino, não se desenvolvem completamente como nenhuma delas ou desenvolvem naturalmente uma combinação das duas. Por exemplo, uma pessoa que nasce com os órgãos genitais masculino e útero).
Identidade de gênero: É a maneira como nós nos enxergamos e como nos sentimos. É o gênero com o qual nos identificamos fazendo parte: homem, mulher, neutro ou ambos.
A sexualidade humana é composta de múltiplas possibilidades de vivência. Vamos aprender as identidades de gêneros mais conhecidas:
- Transgêneras: São pessoas que se identificam com um gênero diferente do seu sexo biológico.
- Não-binárias: Pessoas que não se identificam nem com o gênero feminino, nem com o masculino. (A não binariedade é um termo mais amplo para nomear identidades de gênero que não são se identificam como masculinas ou femininas, estando, portanto, fora do binário de gênero e da cisnormatividade. Pessoas não-binárias podem classificar a sua identidade de gênero de várias maneiras: Agênero, Andrógine, Neutrois, Cristaline, Bigênero, Poligênero, Gênero-fluido, Intergênero, dentre outros.
- Cisgêneras: São pessoas que se identificam, em todos os aspectos, com o seu sexo biológico.
Orientação sexual e afetiva: Indica por quem nos sentimos atraídos, seja física, romântica ou emocionalmente.
- Assexual – que não sentem atração sexual por nenhum gênero.
- Bissexual – que sentem atração pelos gêneros masculino e feminino.
- Heterossexual – que sentem atração por pessoas do gênero oposto.
- Homossexual – que sentem atração por pessoas do mesmo gênero.
- Pansexual – que sentem atração por pessoas, independente do gênero.
Para resumir: Sexo é biológico. Gênero é social. Orientação sexual e afetiva é a sua relação com o outro.
Lembre-se que para você essa informação pode não mudar o seu dia a dia, mas respeitar alguém pode! Vamos fazer do mundo um lugar mais fácil de conviver, para todos? Vamos #CuidarDaFala!
Índice
- 1 Falas que devem ser excluídas do nosso dia a dia e o porquê
- 1.1 “Você não precisa contar para todo mundo que é gay (lésbica, bi, etc).”
- 1.2 “Olha, eu não tenho preconceito, mas…”
- 1.3 “Quem é o homem/mulher da relação?”
- 1.4 “Tudo bem ser gay (lésbica, trans, bi, etc), só não quero que dê em cima de mim!”
- 1.5 “Você é gay/lésbica/trans? Nem parece…”
- 1.6 “E o que vou explicar para os meus filhos?”
- 1.7 “Para de mimimi”
- 1.8 “Não tenho preconceito, tenho até amigos que são…”
- 2 Como se referir de modo respeitoso às pessoas da comunidade
- 3 Qual a diferença entre sexo, identidade de gênero e orientação sexual?