Você sabia que a maioria da população brasileira é formada por mulheres, de acordo com o IBGE? Por mais que elas tenham conseguido depois de muita luta o seu espaço no mercado de trabalho e, claro, sua voz na votação de futuros caminhos da sociedade, ainda não atingimos o ideal.
Ainda de acordo com os indicadores, as mulheres vivem por mais tempo, têm mais educação formal se comparado aos homens e ocupam 44% das vagas de trabalho registradas no país. Se olharmos para o desemprego, os números são ainda piores para elas: 29% maior para o público feminino.
A liderança feminina também está em baixa: apenas 2,8% das mulheres ocupam cargos mais elevados ou de liderança. Mas por que isso acontece?
- O que é a desigualdade de gênero no mercado de trabalho?
- E no Brasil?
- Como promover a igualdade de gênero no mercado de trabalho?
O que é a desigualdade de gênero no mercado de trabalho?
A desigualdade de gênero é notável e comprovada por indicadores, não só no Brasil, mas em todo o mundo. O motivo? Podemos citar a desigualdade salarial, o preconceito, principalmente quando são mães, o assédio tanto sexual quanto moral e a dificuldade de conciliar a carreira com a vida pessoal, que muitas vezes precisa ser “uma mulher multitarefa”.
Para se ter uma ideia, antes mesmo de serem contratadas, as mulheres sofrem com o preconceito de gênero. Segundo uma pesquisa feita pela Universidade da Califórnia e da Universidade do Sul da Califórnia, as mulheres são mais interrompidas durante as entrevistas.
Além disso, elas recebem mais perguntas que homens para o mesmo cargo. Enquanto o público masculino costuma receber 14 perguntas, as mulheres passam a receber mais de 17. Geralmente, essas perguntas têm a ver com a vida pessoal e, ainda, com a necessidade de provar que estão aptas para exercer a função.
É bem provável que você já tenha ouvido relatos de mulheres que foram entrevistadas e receberam as perguntas: “você tem filhos ou pretende ter?”, “ quando eles ficam doentes, com quem ficam?”, “está grávida?” e por aí vai.
O argumento para respaldar esse tipo de pergunta, na maioria das vezes, é pautado na avaliação de licença maternidade e na rotina do trabalho. Homens, por sua vez, mesmo sendo pais, não recebem esse tipo de tratamento durante uma entrevista.
E no Brasil?
Infelizmente, os dados no Brasil não são muito diferentes. Para se ter uma ideia, o Brasil ocupa a 142º posição no ranking de mulheres na política em uma competição entre 192 países.
Na liderança das empresas, ainda é mais desanimador: as mulheres ocupam apenas 14% dos cargos de lideranças em conselhos administrativos e 25% em diretorias, de acordo com o Instituto Brasileiro de Governança Corporativa.
Muitos podem pensar que a conquista pela igualdade educacional alcançada décadas atrás possa ter diminuído essa brecha, mas não é bem assim. Segundo pesquisas, a evolução nos últimos dez anos não foi nada significativa: o público feminino ainda sofre muitas dificuldades para crescer na carreira e ocupar cargos maiores ou de liderança.
Ana Paula Andrade, Tech Manager da Sami, atua na área da TI desde 2015 e já passou por muitas dificuldades: “sempre convivi em ambientes masculinos, a começar pela graduação. Por vezes escutei comentários como “você programa como um homem” ou “até que entrega bem para uma mulher”.
A tech ainda conta que viveu muitos episódios de assédio sexual vindo de lideranças diretas e que tentava passar por cima: “A gente acaba se acostumando e normalizando esses comentários e encarando no bom-humor na tentativa de não pegar pra si e se diminuir”, diz.
Em termos salariais, as mulheres também não recebem igualmente pelo seu trabalho como os homens. De acordo com o relatório Global Gender Gap Report, o Brasil ocupa a 130º posição na igualdade salarial.
Mulheres negras sofrem ainda mais: 44,4% da renda média de homens brancos, sendo menos da metade para o mesmo cargo, segundo dados do IBGE.
Os indicadores da Global Gender Gap Report apontam, ainda, que é necessário cerca de 100 anos para alcançarmos a igualdade de gênero definitiva entre homens e mulheres no mercado de trabalho. Menos de 40% da força de trabalho feminina está ativa no mercado de trabalho contra 61,2% dos homens.
Como promover a igualdade de gênero no mercado de trabalho?
Apesar da estimativa de 100 anos que vimos acima, o objetivo da Organização das Nações Unidas (ONU), de acordo com o Objetivo de Desenvolvimento Sustentável 5 (ODS-5), é alcançar a igualdade de gênero e empoderar todas as mulheres até 2030.
Mesmo que os dados afirmem que ainda existe uma discrepância do objetivo da ONU para a realidade futura, ainda é possível promover a igualdade de gênero no ambiente de trabalho em que vivemos, e tudo fica mais fácil com a ajuda da área dos Recursos Humanos e os gestores.
Veja algumas estratégias para promover a igualdade de gênero nas empresas:
Igualar o salário entre homens e mulheres
Entre os requisitos básicos do RH está a paridade salarial entre homens e mulheres. Portanto, é fundamental garantir que nenhuma mulher ganhe menos que um homem tendo o mesmo cargo e produzindo os mesmos resultados.
Incentivar a liderança feminina
A falta de mulheres na liderança é visível. Para contar esse problema, precisamos primeiro começar pela empresa em que estamos.
Crie programas específicos para o desenvolvimento de lideranças femininas. Em algumas empresas, o sistema de cotas é uma boa opção.
Oferecer recursos
Sabemos que a grande maioria das mães é quem exerce a função de dupla jornada, mãe e profissional. Entendendo o cenário, é ideal fornecer recursos para diminuir essas dificuldades que vão de encontro ao desenvolvimento de carreira do público feminino.
Portanto, que tal oferecer creche ou auxílio creche? Outra opção é o horário flexível com opções de home office parcial ou total.
Seja contra o assédio e isso quer dizer promover ações contra o problema e criar canais de denúncias eficientes. Faça além das medidas legais, desenvolva campanhas internas de conscientização.
Mudar o recrutamento e seleção
Como vimos nos tópicos acima, muitas vezes a discriminação começa na seleção do candidato à vaga. Portanto, é essencial dar um passo atrás e mudar, ainda, o processo de recrutamento. Será que sua empresa é inclusiva?
Felizmente, algumas empresas já começaram a traçar novos caminhos para esse cenário, que é o caso da Sami. Ainda de acordo com a nossa Tech Manager, Ana Paula Andrade, sua experiência foi bem diferente: “fui contratada com oito meses de gestação e me ofereceram um trabalho 100% home office, com um salário muito mais legal e a oportunidade de ficar seis meses vivendo minha licença maternidade. Hoje meu filho tem dois anos”, conta
Mesmo que o cenário não seja favorável para as mulheres, as empresas podem começar com medidas simples, mas que geram mudanças e não precisam de muitos recursos. “Quando eu entrei, na área toda de dados, éramos apenas quatro pessoas”, completa Ana Paula, que hoje lidera um time de dados.
Medidas são necessárias para alterar o cenário e incluir mulheres no mercado de trabalho. E o ganho não acontece só por parte do público feminino, empresas também saem na frente.
De acordo com a Organização Internacional do Trabalho (OIT), as empresas têm aumento de 5% a 20% na lucratividade quando promovem diversidade no corpo de funcionários.
Vamos dar voz ao poder feminino?