A gravidez é uma fase marcada por diversas mudanças, sejam elas físicas, hormonais, emocionais ou psicológicas. Com a potência de dar origem a uma vida, há uma preocupação natural (e essencial) de ter uma gestação tranquila e saudável. E isso nos deixa em alerta em relação a qualquer condição que possa interferir na saúde do bebê, como o diabetes gestacional.
O problema é que, durante a gestação, é comum que a resistência à ação da insulina aumente – um dos principais desencadeadores da doença.
“Na maioria das gestações, as células pancreáticas beta, responsáveis por produzir a insulina, são capazes de compensar o aumento da demanda de insulina, mantendo a normoglicemia”, explica Karina de Paula Bastos Santos, médica de Família e Comunidade na Sami. “Em contrapartida, mulheres que desenvolvem diabetes mellitus gestacional (DMG) têm déficits na resposta das células beta, o que causa secreção insuficiente de insulina para compensar o aumento na demanda do hormônio”.
A condição é séria e oferece diversos riscos tanto para a mãe quanto para o bebê, inclusive de morte.
Nos tópicos abaixo você irá descobrir tudo sobre o diabetes gestacional, desde a sua causa até as principais formas de tratamento:
O diabetes mellitus gestacional (DMG), ou apenas diabetes gestacional, como é popularmente conhecido, é caracterizado por um estado de resistência à insulina durante a gravidez. De acordo com um estudo publicado na Revista da Associação Médica Brasileira, o quadro de hiperglicemia neste tipo de diabetes geralmente está relacionado à produção de hormônios como o lactogênio placentário (produzido pela placenta), cortisol, estrógeno, progesterona e prolactina, que podem prejudicar a absorção de insulina.
A produção desses hormônios é alterada devido às mudanças no metabolismo materno, essenciais para suprir as demandas nutricionais do feto, principalmente para garantir a quantidade adequada de glicose ao embrião. O ideal é que o pâncreas, naturalmente, aumente a produção de insulina para compensar a falha na absorção.
Quando isso não acontece, o risco de desenvolver diabetes gestacional aumenta. Apesar dessas alterações hormonais serem importantes para a formação do bebê, quando resultam em uma hiperglicemia podem oferecer riscos à saúde da mãe e do pequeno. Segundo a Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD), o diabetes gestacional tende a ser uma condição temporária, que ocorre somente na gravidez e tem incidência de 3 a 8% entre as gestantes.
O que causa diabetes gestacional?
As alterações hormonais da gravidez são as principais causadoras do diabetes gestacional, principalmente a produção do hormônio lactogênio placentário (responsável por aumentar a resistência insulínica para que a glicose fique elevada e seja transportada e difundida pela placenta com mais facilidade).
Contudo, de acordo com a Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo), existem alguns fatores de risco que favorecem a hiperglicemia na gravidez, como:
- Idade;
- Sobrepeso ou obesidade;
- Antecedentes familiares de diabetes;
- Antecedentes pessoais de alterações metabólicas, como síndrome dos ovários policísticos, hipertensão arterial sistêmica, aterosclerose (condição cardiovascular) ou uso de medicamentos hiperglicemiantes;
- Duas ou mais perdas gestacionais prévias;
- Recém-nascido anterior com peso igual ou superior a 4 quilos;
- Óbito fetal/neonatal sem causa determinada;
- Malformação fetal;
- Líquido amniótico em excesso.
Quais são os sintomas do diabetes gestacional?
Aqui vai um alerta: segundo a SBD, o diabetes gestacional nem sempre tem sintomas identificáveis. Por isso, o ideal é que a partir da 24ª semana de gestação – que corresponde ao início do 6º mês –, todas as gestante façam acompanhamento regular da glicose em jejum, principalmente com o teste oral de tolerância à glicose (TOTG).
Entretanto, algumas grávidas podem apresentar sinais como:
- Ganho excessivo de peso da mãe e/ou do bebê;
- Cansaço excessivo;
- Vontade recorrente de urinar;
- Aumento do apetite;
- Sede frequente;
- Boca seca;
- Visão turva;
- Náuseas e vômitos;
- Infecções recorrentes na bexiga, vagina ou pele.
O diabetes gestacional pode prejudicar o parto?
O diabetes gestacional tem algumas complicações que podem, sim, interferir no parto. Como indica a Associação Nacional de Atenção ao Diabetes (ANAD), o risco de parto prematuro é seis vezes maior para gestantes com esse tipo de diabetes, além das chances aumentadas de pré-eclâmpsia (aumento da pressão arterial durante a gestação) e do bebê ter excesso de peso (feto macrossômico).
Além do risco de parto prematuro, é importante conversar com o obstetra sobre a indicação mais segura sobre o tipo de parto. Em alguns casos, se o quadro de diabetes gestacional estiver descontrolado, a cesariana pode ser recomendada.
Como é feito o diagnóstico de diabetes gestacional?
O diagnóstico de diabetes gestacional é feito por meio de exames clínicos que analisam os valores da glicemia no sangue. As alterações glicêmicas costumam ser observadas no início da gestação ou entre a 24 a 28 semanas (6º mês), como orienta o Guia da gestante com diabetes gestacional, publicado pela Santa Casa BH – Ensino e Pesquisa.
Se a glicemia em jejum for inferior a 126 mg/dL, porém maior ou igual a 92 mg/dL, é um sinal de alerta. Depois desse resultado, é preciso realizar o teste oral de tolerância à glicose (TOTG), quando o paciente toma 75 g de glicose dissolvida em água algumas horas antes de coletar o sangue.
Se 1 hora após o consumo da bebida a glicemia estiver igual ou superior a 180 mg/dL, e 2h depois o valor for igual ou maior do que 153 mg/dL, isso indica diabetes gestacional. Os valores, apesar de significativos, são inferiores aos do diabetes tipo 1 ou tipo 2.
Quando a gestante apresenta glicemia em jejum acima de 126 mg/dL e TOTG acima de 200 mg/dL, significa que é um quadro de diabetes prévia – ou seja, ela já possuía a doença antes de engravidar.
Quais são os riscos do diabetes gestacional?
Além das complicações na hora do parto citadas anteriormente, como parto prematuro, e pré-eclâmpsia, o diabetes gestacional (DMG) pode causar diversos problemas para a saúde da mãe e do bebê.
Afinal, gestantes com essa condição têm até seis vezes mais chances de desenvolver diabetes tipo 2, como alerta a Febrasgo, e grandes chances de sofrer pressão alta, infecção de urina, hemorragia pós-parto e morte no parto, segundo o guia da Santa Casa BH.
De acordo com a Associação Nacional de Atenção ao Diabetes (ANAD), filhos de mulheres com diabetes gestacional ainda correm risco de desenvolver cardiopatias e síndrome da angústia respiratória, além de malformações, hipoglicemia, icterícia (coloração amarelada) e morte no parto. Já na vida adulta, segundo a Sociedade Brasileira de Diabetes, eles têm maior probabilidade de ter diabetes e obesidade.
Qual a diferença entre diabetes e diabetes gestacional?
Apesar das duas condições serem marcadas por hiperglicemia, o diabetes e o diabetes gestacional são diferentes em diversos aspectos. O primeiro é em relação aos níveis de glicose no sangue. O gestacional possui valores inferiores, e às vezes antecede um quadro final de diabetes.
A principal diferença, porém, está nas chances de cura. Enquanto o diabetes gestacional pode ser revertido e ter uma manifestação isolada, o diabetes – tanto o tipo 1 quanto o tipo 2 – não tem essa possibilidade, levando em conta que é considerado uma doença crônica.
Mas, independentemente das diferenças, os dois podem e devem ser controlados com acompanhamento médico. Isso é fundamental para prevenir os sintomas e complicações da doença, especialmente as mais graves.
É perigoso tomar insulina na gravidez?
Seguindo as orientações da Sociedade Brasileira de Diabetes, é seguro usar insulina durante a gestação. Entretanto, é importante reforçar que a insulinoterapia só é indicada para gestantes que não conseguiram controlar adequadamente a condição com alimentação balanceada e atividade física. É comum que a quantidade de glicose no sangue aumente ao final da gestação, e é geralmente nesse momento que a insulina pode ser recomendada.
Diabetes gestacional tem cura?
O quadro de diabetes gestacional é reversível e costuma desaparecer após o parto. Contudo, isso não significa que os cuidados essenciais para controlar a doença podem ser dispensados. Pelo contrário! As chances das gestantes desenvolverem diabetes tipo 2 são altas, seja em pouco tempo depois da gestação ou à medida que envelhecem.
Mas não é motivo para desespero. Quando tratadas e controladas corretamente, como explica a Sociedade Brasileira de Diabetes, as gestações agravadas pelo diabetes têm um desfecho tranquilo e saudável para a mãe e o bebê.
Qual o tratamento para diabetes gestacional?
Assim como qualquer tipo de diabetes, o tratamento do diabetes gestacional envolve controlar a glicemia e/ou aumentar a presença de insulina no organismo. De acordo com o Guia da gestante com diabetes gestacional, é preciso seguir uma alimentação composta por porções diárias de verduras, legumes (especialmente os de raízes), frutas, óleos ou gorduras do bem, carboidratos, feijões, leite ou derivados, oleaginosas e carnes ou ovos.
Quanto às atividades físicas, as mais indicadas para gestantes são caminhada, hidroginástica, natação, pilates e yoga. Elas devem ser praticadas por, pelo menos, 30 minutos, e de quatro a cinco vezes por semana. Medir e anotar os valores glicêmicos regularmente (conforme orientação médica) também são fundamentais para o tratamento.
Em alguns casos, quando há dificuldade em controlar a glicose com alimentação balanceada e exercícios físicos regulares, o médico que acompanha o quadro ainda pode receitar o uso de medicamentos ou insulina.
Além disso, o estudo publicado na Revista da Associação Médica Brasileira mostra que o estresse também pode influenciar no desenvolvimento da doença. Por isso e por outros motivos – considerando as constantes alterações emocionais da gravidez, por exemplo –, é indicado fazer acompanhamento psicológico durante toda essa fase.