Uma das nossas crenças mais fundamentais na Sami é que o maior problema das pessoas e da saúde é um problema de relacionamento. O relacionamento ruim/quebrado entre médicos e pacientes, entre hospitais e planos de saúde, entre médicos e planos de saúde, entre as pessoas e seu corpo, entre as pessoas e suas famílias e as pessoas ao seu redor.
Relacionamentos quebrados que trazem ou pioram doenças, geram infelicidade e aumentam os custos de cuidar de nós mesmos e dos outros.
E, perto de 1 mês antes de fecharmos a rodada de investimento que nos permitiu ser uma operadora de saúde, um cenário globalmente inédito aumentou o desafio da nossa missão: teríamos que “Criar uma empresa que cuida do ser humano construindo a confiança em todos os seus relacionamentos” com um time de seres humanos em que a maioria nunca se conheceu pessoalmente.
E assim foi. De 22 para aproximadamente 139 colaboradores, criamos em 12 meses uma empresa em que 85% das pessoas nunca se encontrou pessoalmente.
No começo tivemos desafios que, hoje, já são encarados como “normais”, tais como:
- Procurar, entrevistar, contratar e “embarcar” uma nova pessoa no time 100% remoto;
- Conhecer e contratar fornecedores, assinar e implementar contratos 100% remotos;
- Como criar a sensação de “todos no escritório” e “mesa do lado” com dailys, Slack, ligações de Whatsapp;
- Como reunir a empresa inteira para definir os objetivos da companhia (muitas horas e sessões no Google Meet, no Miro, no Asana e no Google Sheets);
- Como respeitar o nosso horário e dos outros;
- Como fazer calls com bebês, crianças, entregadores, telefone tocando, mãe passando atrás;
A verdade é que a maioria desses desafios foram rápidos e facilmente contornáveis, especialmente considerando que não tínhamos alternativa.
Mas, ainda que essas coisas todas façam parte do que é trabalhar em equipe e ajudem na construção dos relacionamentos do time, elas por si só não garantiram nada e tivemos e ainda temos desafios humanos relevantes à frente.
Talvez uma das melhores traduções que eu ouvi foi “perdemos o cafezinho e não percebemos, subestimamos o distanciamento social”. Todas as interações que antes ocorriam aleatoriamente e em ambientes às vezes descontraídos, foram substituídas por “calls” com pautas definidas e objetivos trimestrais para serem cumpridos.
O aperto de mão forte antes de uma reunião, o abraço de despedida, o ombro no ombro em cima de uma planilha, desapareceram. E talvez um pedaço da conexão que poderia ser criada entre as pessoas.
Nesse momento, como sempre acontece, reconhecer o problema foi o primeiro passo. Em seguida, recuperar as conversas íntimas que criam cumplicidade entre as pessoas (one-on-ones), mesmo que sem pauta, foi a primeira medida mais importante e que talvez ainda seja aquela que traz melhores resultados.
Agora, assim como nos demais relacionamentos da vida, acredito que estejamos numa fase evolutiva. Em que nossa “expectativa perfeita” sobre o outro vai ruindo (e a frustração consequente diminuindo), e tem que dar espaço à admiração e colaboração baseado no que o outro tem de bom, e que quem sabe evolua para cuidar do outro como ele é. Ao mesmo tempo, isso se equilibra com a avaliação de performance necessária a qualquer organização que tem uma missão e um prazo definido.
Como também é esperado, acredito que nosso produto reflete um pouco (ou muito) de nós. Ambicioso, diferente, necessário. Ainda nos seus primeiros dias, um pouco desconectado nos seus diferentes elementos e ajustado em solavancos.
Quase inacreditável ver que trouxemos perto de 400 empresas como clientes nos primeiros 4 meses de operação, e perdemos quase nenhuma nesse período apesar dos nossos vários erros.
Felicidade maior ainda nas últimas semanas foi conhecer alguns desses clientes e ver que eles estão cientes das nossas falhas, mas muito felizes de estar com a Sami, com a aquela alegria de um amigo que comemora a sua faculdade quase ignorando que ele sabe muito bem as matérias que você passou raspando.
E ainda mais, com o brilho no olho de quem vê em você um futuro brilhante, e diz “Desce e Arrasa”, e te dá a sensação que vai estar no banco torcendo pelo seu sucesso. Sim, esses são muitos de nossos clientes, mesmo que a gente não os conheça tão bem. O trabalho de mídia e as matérias nos jornais tiveram um papel muito importante em trazer pessoas que entenderam o porquê de estarmos aqui.
Tentamos liderar a criação da cultura de dentro para fora, mas sinto que, por enquanto, a cultura nos atropelou. Sinto que ela se criou e se cria quase que sozinha, baseada nas contratações que fazemos, nas mensagens que passamos. E ela é positiva mesmo que não intencionalmente, mas continuamos na esperança (talvez vã) de que ela ainda será domada.
Algumas áreas funcionam muito diferente das outras, e ainda não está claro se as diferenças são apenas funcionais (financeiro e vendas sempre tem perfis diferentes nas empresas) ou se existem diferenças culturais relevantes que precisamos entender e intervir.
O senso de urgência e velocidade às vezes confunde nosso julgamento sobre quanto tempo algo pode ser estudado, quanto tempo deve levar um projeto, qual o “ponto ótimo” das coisas. E essas diferenças de expectativa e percepção (que às vezes mudam semanalmente mesmo dentro de uma mesma área) aumentam a tensão entre todas as partes da companhia.
Completando 1 ano em casa, as notícias boas são muitas. Queríamos um produto com atenção primária obrigatória. Talvez hoje sejamos a única operadora de planos empresariais no Brasil com 100% dos membros nesse modelo. O que tínhamos medo de talvez impedir a venda, está lá embaixo na lista de razões do declínio de nosso produto. Ainda temos muito para melhorar, mas lançamos a pedra fundamental de um modelo de saúde como o britânico (NHS) ou como da Kaiser, no Brasil.
Queríamos vender digitalmente. Acredito que entramos para a história do Brasil no início de 2021 como a primeira operadora de planos empresariais a fazer uma venda 100% digital.
Queríamos oferecer para o mercado um plano que fosse mais do que uma carteirinha para ir ao médico. Somos o primeiro plano de saúde no mundo com Wellhub (antigo Gympass) incluso sem custo adicional para o membro, oferecendo 9 mil academias no mundo. Falei com um membro que foi 31 vezes na academia só nos últimos 2-3 meses e fomos nós que viabilizamos isso.
Queríamos dar acesso à saúde. Quase 80% dos brasileiros não tem plano de saúde, e esse percentual, infelizmente, vem crescendo ao longo dos últimos 10 anos. Na Sami, 50% dos nossos clientes não tinham plano de saúde antes (média de mercado é 20%). Conversei com um cliente de 24 anos que é a primeira vez que ele tem plano de saúde na vida, e é o nosso. O misto de alegria, orgulho, esperança que eu sinto é um que poucas coisas na vida podem trazer.
Somos o único plano acessível no Brasil a vender para o MicroEmpreendedor Individual (MEI) de 1 vida. São provavelmente entre 5 e 7 milhões de pessoas que têm a porta fechada em outros planos de saúde apesar de terem um CNPJ. São pessoas que dependem da saúde para trabalhar porque do próprio trabalho vem a sua renda. Somos a esperança, a prevenção e a provisão para essas pessoas.
Faz apenas 4 meses que saímos à rua, com a maior parte do time sem sair de casa.
Sami é “aquela que escuta”. Um exercício quase sobre-humano se não estivesse tão ligado ao que entendemos por humanidade. Um exercício infinito que vai sempre justificar a existência desse grupo e de darmos o próximo passo. Um exercício que sempre tem que nos lembrar de cuidar uns dos outros, mesmo que ainda precisemos cuidar de nós.
Vitor Asseituno, cofundador e presidente da Sami, é médico formado pela UNIFESP e com MBA em finanças pela FGV. Criou sua primeira empresa no setor de feiras de negócios (Live Healthcare) e vendeu em 2018 para o grupo Informa, líder de mercado global com capital aberto na Bolsa de Valores de Londres.
Olá, sugiro contratar um intérprete de Libras para ajudar a Sami a atender via vídeo chamadas os clientes com deficiência auditiva.
Oi, Ana! Muito obrigada por compartilhar essa sugestão. Já está no nosso radar nos tornarmos mais acessíveis para que pessoas com deficiência auditiva possam se comunicar com seu Time de Saúde e com a Sami como um todo. Esse é um tema que estamos falando internamente e esperamos fazer a entrega o quanto antes! Mais uma vez, agradecemos pelo comentário e caso você tenha outras questões que gostaria de compartilhar com a gente, fique à vontade.