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No Brasil, o paciente virou matéria-prima em grandes linhas de produção

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Um grande (e quente) debate domina as rodas de conversa sobre a gestão da Saúde no Brasil: qual modelo de remuneração os planos de saúde devem adotar em suas redes credenciadas para garantir o melhor atendimento ao paciente e, de quebra, controlar o custo médico?

Chamado de fee-for-service, o modelo de pagamento utilizado hoje  por grande parte das operadoras foi eleito o maior vilão da inflação na saúde e da experiência ruim do paciente.

O fee-for-service é um modelo de remuneração em que o prestador de serviço (hospital, médico, laboratório…) é pago pelo plano de saúde por cada item que gasta ou procedimento que realiza. Ou seja: o prestador recebe por quantidade, sem considerar a qualidade e a eficiência do atendimento ao paciente.

Dessa forma, o próprio sistema de saúde privada vem incentivando o uso intenso e indiscriminado de recursos médicos.

No modelo atual, o paciente não é prioridade

O impacto do fee-for-service é muito maior do que o já preocupante estímulo ao consumo indevido de serviços. 

O modelo afeta até o design da assistência médica (em inglês, Healthcare Delivery Design, uma área muito estudada, mas ainda pouco priorizada), definindo a configuração do desenho de todo o aparato médico.

Assim, a forma como o plano de saúde paga o médico influencia direta e fortemente na qualidade do atendimento ao paciente.

Paciente vira matéria-prima na esteira

O modelo atual de pagamento leva consultórios, hospitais e laboratórios a serem formatados como linhas de produção de “eventos remuneráveis”.

Nós, pacientes, somos entendidos como “matéria-prima” da produção, cuidadosamente estocados em grandes salas de espera.

Ficamos à disposição dos profissionais que, por sua vez, são estimulados a controlar o fluxo e a acelerar a velocidade da produção de serviços.

Quanto mais serviços, maior a receita da unidade. E nem sempre a maior fatia da remuneração vai para o prestador – mais uma semelhança com o modelo fabril tradicional.

Na lógica do fee-for-service, o paciente não é o centro do modelo; ele é um insumo.

A receita provém do volume de serviços e não da qualidade, da satisfação e da conveniência do paciente ou de qualquer outra métrica de valor que não seja financeira.

O projeto é todo voltado para a produção de atendimentos em série. O paciente se desloca por várias salas de espera e de atendimento. 

As equipes médicas comandam e controlam o fluxo, desenhado em torno delas mesmas, pois elas são o centro de todos os processos.

Ao avaliarmos esse modelo, um questionamento surge naturalmente. Como as operadoras de saúde podem remunerar os prestadores de serviços para assegurar um atendimento de excelência aos pacientes e também sanear os custos médicos?

O paciente como protagonista da Saúde

Quando o fee-for-service não dita o desenho dos processos, o paciente se torna o centro do sistema de Saúde. Ele assume a relevância e o controle das operações. 

Dessa forma, os prestadores perdem parcialmente o controle – algo que desafia o modelo atual e que é, sem dúvida, um problema para muitos. 

No entanto, além de gerar resultados para o paciente, o modelo onde ele ocupa papel central gera benefícios para o sistema como um todo.

Os profissionais de saúde passam a integrar uma equipe com objetivos únicos, orientados ao benefício à saúde e bem-estar. Eles, assim como os prestadores de serviço que formam a rede credenciada, passam a ser melhor remunerados quando o desfecho clínico positivo atinge os padrões de qualidade previamente acordados. 

Esse modelo, que privilegia a qualidade e não a quantidade de atendimentos, também garante melhores resultados e benefícios em saúde a um custo menor.

Sem as amarras do fee-for-service, as equipes entendem o poder da entrega assistencial alinhada à busca da geração de valor para o cliente.

Essa é a base de um novo modelo que integra experiências e propostas novas para colocar o paciente onde ele mais precisa estar: no lugar de protagonista da sua própria saúde.

Este texto é uma adaptação livre do artigo originalmente escrito por Sérgio Ricardo Santos, médico pneumologista, doutor em Ciências da Saúde pela Unifesp e senior advisor da Sami. Sérgio é também conferencista e colaborador da Harvard Business School, além de ex-CEO da Amil.

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